É uma das eternas questões: toda a história tem duas faces e a questão colocada ( e muito bem, acrescento) por um dos nossos leitores pode igualmente trazer esta dualidade.
Como é que Frederico Silva vai aos Estados Unidos e faz um brilharete e depois joga em França e cai à primeira ?
Como é que Patricia Martins oscila entre meias finais e finais e derrotas na 1ª ronda ?
Será um problema de estatura profissional, culpa ou não da formação de base?
Será pouca sorte nos sorteios ?
Será somente um tremor dos grandes jogos, acusando uma menor rodagem pelos torneios internacionais, se nos comparar-mos às grandes vedetas juvenis da Europa.
Ou, e esta é a minha versão, será apenas a constatação de que a formação generalista de base em Portugal é muito mais o de aproveitar os dons naturais de alguns, poucos, miúdos e miúdas e muito menos o de retirar de muitos potencialidades escondidas, não tendo nós uma estrutura interna competitiva que prepare adequadamente os miúdos para estes grandes torneios europeus?
Mas vamos aos factos e falo só de sub-14, olhando para os rankings da semana passada:
Em masculinos/Femininos /Total no Top 200:
Portugal: 6/1 = 7
Espanha: 0/0= 0
França : 11/7= 18
Italia : 19/14 = 33
Alemanha: 20/12= 32
Inglaterra: 11/9 = 20
R.Checa : 12/11= 23
Russia : 23/30 = 53
Isto é a realidade europeia e facilmente se nota o dominio das representações russa , italiana e alemã o que terá a ver, digo eu, com uma estrutura de treino para os mais novos perfeitamente integrada nos sistemas de competição da ETA.
É obvio que sempre podemos dizer que os rankings são relativos, existem muitos torneios na Europa Central e de Leste e logo as possibilidades de pontuar são maiores mas esta explicação é demasiado conveniente.
O PNDT pode ser interessante e poderá dar, a curto e médio, alguns resultados ( para quem nada tinha, ter alguma coisa é sempre bem melhor) mas apenas apanha os melhores , escolhendo-os de meia dúzia de apreciações nada sistemáticas ( onde é que estão os grandes torneios nacionais para os mais novos???) e, pergunto eu, e os outros??
Será que no meio da "plebe" tenistica nacional não haverão jovens tenistas que, com um correcto e sequencial programa de treino ( tipo um Plano de Treino Nacional, adaptavél pelos clubes de acordo com as caracteristicas dos jogadores) e com competição cada vez mais de nível de exigência alto, se poderiam tornar jogadores acima da média ?.
Esta ideia é comum nos Estados Unidos, todas as grandes academias utilizam os mesmos programas de treino ( afinal, tudo já foi inventado e não existem programas miraculosos ) e tudo depende do talento natural de cada um. A isto juntam um completo sistema de competição, com centenas de torneios todas as semanas, por todo o território norte-americano.
Pergunto eu ( que estou do lado de fora e pouco ou nada conheço dos programas de treino dos principais clubes em Portugal ) : Será o programa de treino para os sub-12 e sub-14 na Ace-Team, por exemplo, igual ao que se faz no CT do Porto ? Quantas vezes jogam internamente os melhores jogadores destes dois clubes, uns contra os outros e os exemplos podem-se estender a outros, como é obvio?
Por certo existem coisas positivas em ambos mas que somente num deles é usado, não seria útil fazer quase que um "brainstorming" nacional, entre todos e combinar estratégias, exemplos e métodos, aplicavéis em todo o país, para que pudessemos desenvolver um tipo de cultura tenística muito própria.
No fim, até pode ser que o ideal seja o exemplo espanhol.
Os nuestros hermanos, na faixa etária apresentada, simplesmente prescindiram de participar em torneios internacionais e os casos de excepção ( Boluda e um ou dois mais) fazem-no por questões de patrocinios e nada mais.
No entanto ( Rita Vilaça que o diga...) nas competições internas em Espanha o nível apresentado é muito elevado e os diversos campeonatos regionais são autênticos torneios de categoria superior, sendo que em Espanha, os jovens apenas partem para torneios estrangeiros para participarem em torneios profissionais.
Repare-se que no ranking ITF de júniores, masculinos, apenas 4 tenistas estão no Top 500, sendo o 1º colocado em 279º, Carlos Boluda, o mais novo de entre todos.
Mas se formos ao ranking ATP, Espanha tem " apenas" 5 jogadores nos 17 primeiros, 12 dentro do Top 100 e 27 dentro do Top 300.
Quantos torneios de expressão internacional, para sub-18 e inferiores, conhecemos em Espanha? Nenhum.
E agora apontem torneios Challenger para cima : Madrid, Barcelona,Valência, Sevilha,La Coruna, e só cito alguns de cabeça....
Quantos Futures existem em Espanha em cada ano????
E torneios ITF júniores???
Será este o melhor exemplo?
Lançaremos nós, os nossos jovens, demasiado cedo no mercado internacional ?
Seremos mais vaidosos, querendo apresentar pontos nos rankings europeus e mundial, disfarçando uma inexistente estrutura de base?
Deveríamos apostar em torneios e mais torneios internos do Minho ao Algarve, dos Açores à Madeira e apostar num programa de treino único ou aproximadamente parecido e fazer crescer bons jogadores da mediania que hoje temos?
Gostaria de saber das vossas opiniões, desde que, como é obvio ( e aqui a intrasigência será absoluta), não entrem no ataque, ofensa ou outros considerandos que nada tem a ver com o tema.
Também gostaria que os mentores dos treinos dos nossos miúdos arranjassem algum tempinho e colocassem aqui as vossas percepções sobre este assunto de fundo que há muito já deveria ter sido alterado. Ou não?