O que parecia ser uma boa ideia, tendo tido durante este ano várias demonstrações no terreno, está a tornar-se numa ideia , no minimo confusa.
A ideia do Paulo Lucas parecia talhada ao sucesso. Identificar talento em jogadores que já jogam ténis e ajudá-los a desenvolver o seu máximo potencial, projectando novos métodos científicos junto dos clubes e treinadores, aproximando o nosso país ao que de melhor se faz lá fora ( basta olhar para a nossa vizinha Espanha !!!) e criando condições para estágios profissionais e onde os jovens até aos 12 anos possam beber e retirar novas plataformas de conhecimento, seria, de facto, um salto qualitativo enorme para o nosso ténis.
A federação, que imediatamente abraçou o plano, tornou-o realidade em poucos meses e em Março realizou-se o 1º estágio nacional para sub-12, no Jamor,com base metodológica defenida neste programa. A este estágio já vinham atletas provenientes da Madeira e Açores que logo em Fevereiro tinha tido o seu estágio regional.
Pedro Bívar, Coordenador Nacional do PNDT, viu 14 novas esperanças do ténis infantil e assistiu a uma enorme afluência ( mais de cem ) de crianças que participavam no programa regional de Lisboa.
O plano apoiaria igualmente a ida a torneios internacionais da selecção de sub-12 e a reuniões com outros países como foi o caso de Espanha. Ao que parece, o plano estava a correr bem e no final de Agosto, a FPT publica a seguinte noticia:
30/8/2006 Programa Nacional de Detecção de Talentos
Uma aposta que já dá frutos com Patrícia Martins e Miguel Almeida
Pedro Bívar é o Coordenador Nacional do projecto lançado por Paulo Lucas
A Federação Portuguesa de Ténis (FPT) está a apostar no forte desenvolvimento do Ténis em Portugal através da formação de novos jogadores. Em marcha está um projecto que ainda não tem um ano (nasceu em Novembro de 2005) mas que já dá frutos: O PNDT – Programa Nacional de Detecção de Talentos. Exemplos são os jovens Patrícia Martins, de 12 anos, e Miguel Almeida, de 14.
A ideia surgiu do Director Técnico Nacional, Paulo Lucas, que “desafiou” para Coordenador Nacional Pedro Bívar, que entre 1991 e 2000 esteve dedicado às Selecções Nacionais como técnico da federação.
«Fui desafiado pelo Paulo Lucas e apesar de na altura estar com a vida dificultada pelo trabalho que desenvolvia em vários clubes, acreditei no projecto, percebi que estava muito bem feito e aceitei. Sempre me interessei pela formação e defendo que Portugal tem de trabalhar no desenvolvimento do ténis desde os escalões mais jovens, à semelhança dos outros países. Só a cerca de 10 anos é que começámos a perceber a importância do ténis juvenil e agora temos de acelerar para colmatar a diferença que existe face a praticantes de outros países», afirma.
«O projecto não pressupõe somente a descoberta dos atletas em fase embrionária com maior potencial, mas também deve intervir de forma activa no seu processo de formação, balizando o trabalho dos Clubes e dos treinadores e sujeitando o apoio da FPT a rigorosos critérios de qualidade. O Programa, original e inédito em Portugal é já ensaiado e posto em prática em muitos países tenisticamente desenvolvidos desde há muitos anos e com provas dadas. Pretende-se também criar uma espécie de “Modelo de Jogador Nacional”. Os nossos tenistas nunca tiveram um estilo de jogo próprio, e com este programa é possível criar esse estilo, a marca.»
O PNDT está dividido em 5 Zonas geográficas - Zona Norte (Associações Regionais de Vila Real, Porto, Viseu, Aveiro e Coimbra); Zona Centro (Lisboa, Leiria e Castelo Branco); Zona Sul (Setúbal, Alto Alentejo e Algarve); Madeira e Açores – e cada zona tem 1 Coordenador, cuja principal função é a de rastrear todos os atletas, masculinos e femininos (o PNDT tem uma concepção mista), que sejam considerados com potencial numa 1ª fase pelos clubes e Associações Regionais da sua Zona.
DOIS JOVENS COM FUTURO DE SONHO
Patrícia Martins tem 12 anos e em apenas 15 dias conquistou os títulos de Campeã Nacional de Iniciados e Infantis. Venceu dois torneios internacionais, em Itália e nos Açores e foi à final de uma prova em França. Já Miguel Almeida, 14 anos feitos recentemente, é Campeão de Infantis e Cadetes e actualmente está a lutar pelo título de Juniores no Campeonato que decorre na Quinta da Marinha.
São dois jovens formados já no âmbito do PNDT e que provam a mais valia do investimento feito. Para eles o sonho é a profissionalização mas por enquanto as maiores dificuldades são compatibilizar os estudos com as 3 horas e meia de treinos diários, apesar de serem excelentes alunos.
Gonçalo Marques, treinador de Miguel Almeida e director técnico da Associação do Alto Alentejo afirma: «É muito estimulante, um desafio bem diferente porque estamos a trabalhar com jogadores acima da média muito vocacionados e entusiasmados por este desporto e com muito talento. Sei do que estou a falar porque já fui jogador e entretanto estive nos Estados Unidos onde fiz um curso de Gestão Desportiva. Agora aplico os conhecimentos a realidades diferentes.»
No passado fim-de-semana, reunião magna do Programa, com a realização do Estágio Final no Jamor e que até contou com a participação do conhecido Van Griechen, treinador da precoce campeã Vitoria Azarenka. 24 tenistas, 4 treinadores, muitos treinos e muitos jogos e tudo vai bem no reino.
Ou não???
Ao que conta o Manuel Perez, do jornal "O Jogo", a relação entre Paulo Lucas ( Director Técnico Nacional) e Pedro Bívar ( coordenador do PNDT ) andava pelas ruas da amargura. Pedro Bívar tentou apresentar um novo projecto de interligação entre as várias selecções nacionais para que o nosso país possa ter, em qualquer momento, os melhores atletas nos escalões onde devem estar e Paulo Lucas não gostou do que ouviu e mandou retirar o assunto da mesa.
Foi a gota de água.
Ontem mesmo, Pedro Bívar apresentou o seu pedido de demissão de Coordenador do PNDT e a criança, que tão boa conta de si vinha dando, que aparentava já querer andar, fica orfã de um momento para o outro. O programa não deverá parar, ninguém é insubstítuivel mas parece-me incrível como estas coisas sempre acontecem em Portugal.
Num pequeno aparte, pergunto eu:
Não terão que ser projectos privados de alto-rendimento como a LagosTeam ou projectos de clubes com estruturas aparentemente coesas ( AceTeam, CETO, CIF ou CTFaro) a serem o motor da prospecção, iniciação e acompanhamento dos nossos novos talentos?
Não seria melhor classificar os clubes e/ou associações pelo trabalho apresentado e compensá-las finaceiramente por isso, gerindo com mais rigor os dinheiros públicos?
A ideia de tornar centralizada a questão da detecção de novos talentos não será cortar as pernas aos muitos empreendedores que, nos clubes, grandes e pequenos, lutam diariamente para apresentarem novas promessas?
Era bom que alguém apresentasse os apoios que a FPT já deu a Patricia Martins ou a Miguel Almeida ( cito estes dois pois foram bandeira do próprio programa) para todos podermos perceber se estas duas promessas do nosso ténis têm tido o apoio que os resultados que apresentam mereceriam.
Antes de sabermos se sim ou não, dificilmente podemos acreditar em programas, planos ou intenções da Federação tendo em vista elevar o nível do nosso ténis, em Portugal e na representação do nosso país por esse mundo fora.
Para reflexão de todos nós.
PS: Alguém me pergunta porque razão temos em Portugal cada vez menos torneios pontuáveis para os diversos rankings mundiais. Alguém quer responder?