Dos muitos amigos que este blog vai fazendo, um dos mais recentes está nos Açores, de seu nome Bruno Ávila, tenista/músico/jornalista/director de comunicação do clube de ténis mais emblemático do arquipélago, o Clube de Ténis de São Miguel (
http://www.ctsm.org/).
Em amena cavaqueira, o Bruno lembrou-me que, no final de Novembro passavam 10 anos sobre o desaparecimento precoce de uma das grandes esperanças do ténis português no final do século passado, Jorge Humberto, capitão da selecção nacional de júniores da altura.
Confesso que só conhecia o nome, pois por duas ou três vezes, nas minhas pesquisas, o Jorge Humberto tinha passado pelo meu écran.O desafio do Bruno, que aceitámos de braços abertos, era de prestar uma singela homenagem, lembrando não o seu desaparecimento mas sim as memórias que o miúdo deixou em todos os que conviveram com ele.
O Bruno, que com ele privou e jogou ( e perdeu, acrescentamos nós...) meteu mãos à obra e enviou-nos o que , para ele e por certo, para muitos, significou o Jorge Humberto.
Associamo-nos a estas memórias, endereçando um sentido profundo de mágoa a toda a família do Jorge, sendo que os grandes homens nunca nos deixam.
Eis pois, ainda que longo, um merecido destaque à memória de Jorge Humberto, nascido a 12 de Abril de 1980 e que nos deixou num estúpido acidente de viação a 23 de Novembro de 1997, em Palmela.
Para o Jorge Humberto
Não sei se sou a pessoa certa para escrever acerca do Jorge, mas não podia deixar de responder afirmativamente ao desafio do Rui, depois de ter sido eu próprio a lançá-lo, por ocasião do 10º aniversário da sua partida.
Falar do Jorge Humberto não é fácil, uma vez que, tudo o que disser, soará sempre a muito pouco, principalmente para quem com ele privou de perto e teve o privilégio de conhecer o “puto” e o jogador. Ele era diferente!
Em 1992, quando fui jogar o meu primeiro “Yoggi Sport” (a verdadeira festa do ténis português!!!), o Jorge já dominava! Naquela época, era dos que mais títulos conquistava e, se não ganhava mais, é porque tinha, quase sempre, do outro lado da rede, outro nome incontornável: Gonçalo Figueiredo.
Não me esqueço de o ver jogar no campo nº1 do Estádio Nacional. Foi a primeira vez! Depois disso habituei-me a vê-lo em todas as grandes provas que se disputavam, sempre nas fases decisivas…sempre a lutar pelos lugares do pódio, como era seu adágio!
Dos Campeonatos Nacionais aos míticos “Open Coca-Cola”, em Oeiras, passando pelos estágios da Selecção Nacional, com o Centro Estágio sempre em pano de fundo como residência oficial dos tenistas, foram mais que muitas as histórias que guardei no meu livro de recordações…como aquela em que, em 1995, salvo erro, e que me perdoem os visados pela inconfidência, quebrámos as rígidas regras impostas pelo “Mourinho do Ténis”, Pedro Bívar, Seleccionador Nacional de Iniciados e Infantis, e nos pusemos em fuga com os mais velhos rumo às Amoreiras. Lembro-me de partilhar o quarto com o Nicau e que, connosco, se escapuliram nomes como o Diogo Rocha, o José Pedro Silva, o Pedro Leão e o Nuno Lencastre (entre os que me lembro!).
Apadrinhados por Jorge Humberto, Hélder Carvalho, Bruno Pedro, Antelmo Serrado, André Lopes, André Ferreira, Luís Lourenço e outros tantos que, por lapso de memória, me escapam, mas que, à época, também se encontravam a estagiar, rumámos ao conhecido Centro Comercial em Táxis separados, em noite de Belenenses/ Benfica, onde o Zé Pedro teve a (triste!!!) ideia de apagar todos os televisores recorrendo aos inovadores relógios comando, o que fez com que tivéssemos de iniciar uma fuga por rebelião quase colectiva dos adeptos da bola. Na altura em que descíamos as escadas rolantes o Jorge topou uma donzela de mini-saia que estava encostada à área circundante superior e fez questão de nos chamar a atenção, ficando nós boquiabertos de cabeça para o ar a admirar os atributos da dita cuja do 1ºpiso…recordamos sempre esta história quando nos encontramos por esse país fora, nos CIMA! Mas é uma…entre tantas…que se passaram…e tantas que acabaram por não se passar…
Podia falar do Jorge craque da bola, do Jorge guloso (tele-pizza era a solução perfeita para uma boa ceia no Jamor), do Jorge rebelde, do Jorge amigo…mas gostava que fossem os mais chegados a fazê-lo…quiçá num livro, poderíamos reunir testemunhos, recordações, resultados, expectativas e sonhos de alguém que não teve tempo suficiente para os concretizar!
Em 1996, por altura do “Open Coca-Cola”, estávamos nós instalados na Pousada da Juventude do Marquês de Pombal e o Jorge não tinha onde ficar. Depois de conversar com o Miguel Tavares, o nosso treinador da altura, lá se arranjou solução e um colchão no meio de um quarto de oito juntou-o à comitiva açoriana…o que sofreu!!! Todos os dias era o principal abastecedor de bolachas e guloseimas, tal o “manancial de guerra” de que se fazia acompanhar…era um saco de fazer inveja a meio mundo…mais ou menos como o barril do Ferrão: não faltava nada!
Foi, curiosamente, nesse Torneio, que tive o prazer de o defrontar pela primeira e única vez na minha carreira: na 1ª ronda, e depois de ter realizado 5 jogos no dia antes (singulares e pares) no CIF…perdi limpinho e o que mais me impressionou foi a frieza com que encarava cada ponto e não facilitava. Para ganhar um ponto ao Jorge era preciso trabalhar muito, daí que os 4 jogos que fiz (2 em cada set), mesmo sendo mais novo, me tenham deixado orgulhoso…
Já vai longo o meu testemunho…pretendia homenagear um grande Campeão e perdi-me a desfiar memórias…mas é delas que vamos vivendo! E tenho a certeza que são elas que nos fazem estar mais próximos de quem, já não estando entre nós, continua a fazer-nos sorrir pelo simples facto de ter existido nas nossas vidas…
Até Sempre Jorge!
Bruno Ávila