Não é a primeira vez que o fazemos, nem será a última mas a actualidade, a clareza e a cordialidade do mesmo leva-nos a destacá-lo de entre as centenas, sim, centenas de comentários que temos recebido. Agradeço ao anónimo, que poderia e deveria ter assinado tão coerente comentário, a propósito da participação das tenistas lusas no 2º torneio da Beloura.
Aqui vai:
"Há realmente muita coisa a melhorar no ténis feminino em Portugal, mas com as condições existentes e falta de dinamização da competição das raparigas nos clubes, as coisas não se tornam fáceis.
É fácil dizer que temos de melhorar, a questão está em todos nós consciencializar-nos do que há que melhorar, e trabalhar para isso. Deixo aqui apenas alguns factores para reflexão:- Praticamente inexistente competição nos escalões mais novos a nível interno, visto que quem passa 3 bolas por cima da rede chega logo a finais e encontra sempre as mesmas jogadoras (o que felizmente já não acontece tanto no sector masculino);-
Menor independência feminina no nosso país (pais superprotectores) que tem como consequência menor autonomia para viagens e torneios – é completamente diferente viajar para torneios “fora de casa” com raparigas do que com rapazes- Muito poucas as que tentam seguir o percurso normal de alta-competição, visto que as que o fazem geralmente são as que podem e não são normalmente as que mais condições têm para singrar.-
As poucas que tentam fazer alguma coisa num país em que ninguém apoia quase nada, ainda são criticadas, passando muitas semanas sozinhas no circuito junior e senior internacional apenas com os pais ou com o treinador-
Nas raparigas acontece tudo de uma forma mais precoce do que nos rapazes, por diversas razões, pelo que o trabalho tem de ser mais precoce, e têm de começar a competir internacionalmente muito cedo, o que não acontece geralmente em Portugal por algumas das razões acima descritas-
Quem conhece o circuito junior e sénior, sabe que ao olhar para um quadro de um 25.000 vê lá muitas jogadoras que foram campeãs da europa ou vice em anos anteriores nos escalões juvenis, ou outras que se começam a treinar como profissionais quando têm 12/13 anos (estudando pela internet ou noutros sistema alternativos), quando as nossas ainda vão o dia todo à escola e tentam treinar 2 a 3 horas por dia depois das aulas.
Vemos jogadoras das melhores juniores do mundo, ou profissionais que já o são há muito tempo. Colocar jogadoras “amadoras” a competir com profissionais (sim, por que é esse mesmo o caso com excepção de 3 ou 4 jogadoras em Portugal) não podemos esperar melhores resultados.
Estes são apenas alguns dos aspectos que podem ser referidos. Penso é que em vez de termos uma abordagem de criticar as jogadoras ou os treinadores envolvidos, deveríamos todos contribuir para tentar criar condições para que mais Michelles e Gastões pudessem aparecer no nosso panorama nacional, e não ficar apenas à espera que estes apareçam de alguns acasos de esforço individual."
NR : Eu assino por baixo. Obrigado
Caro Rui,
ResponderEliminarObrigado pelo destaque do comentário. Aproveito para felicitá-lo pelo blog, que tem realmente feito diferença na informação sobre o ténis nacional.
O autor do comentário
César Coutinho
Não foi o César que fez.. Fui eu!
ResponderEliminarUm abraço,
Pedro Bivar
O menino de Coimbra tinha estofo para fazer um comentário como este.
ResponderEliminarEle é que costuma acompanhar jogadoras no circuito feminino, aqui e em Espanha.
Ou não menino João?
Caro Rui
ResponderEliminarDevo informar que não fui eu quem escreveu o referido comentário, com o qual refira-se concordo plenamente. Acredito que tenha sido o César o seu autor e daqui o felicito pelo seu teor.
Contudo aproveito para juntar outro comentário este sim da minha autoria: estou em crer que dificilmente produziremos um jogador de top em Portugal se não houver uma revisão profunda dos horários escolares dos atletas que se dedicam a sério ao ténis, ou diga-se a qualquer actividade desportiva. É para mim inqualificável que miúdos, atletas ou não, estejam na Escola das 9h às 18h. Exige-se mais aos menores neste país do que a trabalhadores adultos. O fazer-se isto com atletas ainda é mais grave, dada que além da brutal carga horária escolar ainda têm a carga horária de treinos diária, tanto mais importante quanto melhor fôr o seu nível. Muitos clubes têm bons jogadores que apenas têm disponibilidade de Treinos a partir das 17h e acabam-nos quantas vezes às 21h. Depois ainda vão para casa jantar e ainda têm de fazer trabalhos escolares para o dia seguinte. Quantos deles se deitam depois da meia noite, dormindo assim cerca de 6/7 horas. É impossível um atleta de alta competição, em qualquer parte do mundo, ter um rendimento adequado com este tipo de exigências, ainda para mais sabendo da tendência ou falta de conhecimentos desportivos dos pais, para exigirem dos filhos, em simultâneo, a excelência desportiva e académica.
Sugiro pois que daqui se faça um abaixo assinado para a FPT para que esta pressione o Ministério da Educação com o objectivo de se avançar com a medida já várias vezes proposta de criação de turmas nas Escolas deste país especificas para atletas de alta competição dos vários desportos. Doutra forma estaremos sempre a ser injustos para com os atletas Nacionais dado estarmos a comparar o que não é comparável: o amadorismo com o profissionalismo ou em idades mais tenras as condições óptimas para a produção de um jogador/a ou a total ausência delas.
Cumprimentos
Pedro Bivar
Como pai de um jogador , não podia estar mais de acordo com o comentário do Pedro Bivar. Os horários das nossas escolas não estão adaptados a atletas de competição. A carga horária a que os jovens estão sujeitos , aulas + treinos, fazem deles verdadeiros heróis.
ResponderEliminarNão estou em desacordo com o comentário de Pedro Bívar. De facto, a carga horária excessiva dos alunos não lhes deixa muito tempo para outras actividades extra-escolares, nomeadamente as de carácter desportivo. A criação de turmas de alta competição, como sugere Pedro Bívar, não é exequível. Em que escola existirão atletas de alta competição com o mesmo nível de ensino e em número suficiente para formar uma turma? Provavelmente, em nenhuma. Devemos antes pugnar pela diminuição da carga horária lectiva para todos os alunos e não apenas para aqueles que praticam deporto de competição.
ResponderEliminarMP
Permitam-me dar um contributo à discussão em apreço, com conhecimento de causa.
ResponderEliminarO aspecto referido pelo anónimo anterior faz todo o sentido, isto é, é quase impossível ter uma turma de alunos do mesmo ano em alta competição. Mas outras coisas são possíveis. O Gastão Elias frequentou a minha escola e no último ano em que lá esteve (9º ano) teve um professor-tutor que fez a ligação entre a Escola e o aluno sempre que este estava fora do país em competições. Os professores elaboravam materiais para que o aluno pudesse trabalhar quando estivesse ausente. No ano seguinte (10º ano) teve ainda um acompanhamento mais aprofundado e não deixou de completar o 10º ano com notas muito razoáveis.
Hoje, existem ferramentas pedagógicas que facilitam ainda mais o ensino à distância, nomeadamente plataformas de aprendizagem, às quais os professores e os alunos poderão estar ligados.
É certo que o Gastão teve desde muito cedo a necessidade de um plano de treinos diário mas a Escola procurou sempre dar-lhe um horário compatível por forma a poder treinar diariamente e ter um bom desempenho escolar.
Também é necessário que os pais saibam dos direitos que assistem aos filhos quando estão em alta competição para que os possam fazer valer junto das escolas. Claro que nem sempre temos à frente das escolas pessoas com sensibilidade para proporcionar a estes jovens condições, mas há que trabalhar no sentido de mudar as mentalidades.
Sou pai de uma atleta que faz competição em Portugal nos escalões mais jovens.
ResponderEliminarE de facto não é fácil.
Compete aos responsáveis agir perante as autoridades e solicitar regimes de excepção.
O Ténis é muito exigente e não admira que muitas desistam neste longo trajecto pois é preciso sacrifícios ( e os miudos hoje não têm espírito de sacrifício).
E se querem atingir o mesmo nível das melhores estrangeiras têm de treinar muito, competir muito( cá e lá fora), investir financeiramente muito,terem uns pais que dedicam muito e gostarem muito do que fazem.
Quantas conseguem????